«Tomás inclinou-se no sofá, pegou numa das revistas amontoadas sobre a mesinha e folheou-a distraidamente. Enormes fotografias de pessoas bem vestidas enchiam as suas páginas com sorrisos iguais, quase estereotipados, anunciando ao mundo a felicidade cor-de-rosa dos seus casamentos ou a animação frívola das festas lisboetas; eram revistas de sociedade, de gente bem em poses cuidadas, encenadas, exibindo homens de aspecto próspero e vistosas camisas de marca, desabotoadas junto aos colarinhos, posando ao lado de loiras oxigenadas, a pele estragada pelo Sol e as faces pesadamente maquilhadas; tornava-se evidente que aquelas personagens tinham declarado guerra ao passar dos anos, num esforço vão, grotesco até, para reterem a beleza que a idade inexoravelmente lhes roubava em cada instante, a juventude que se perdia a cada respiração, ao ritmo em que a areia desliza numa ampulheta e é largada pelo sopro do tempo.»
Codex 632, José Rodrigues dos Santos
A imortalidade e a eterna juventude, o maior desejo daquelas personagens. Julgam-se senhores e senhoras capazes de contrariar as leis da vida. Não me apoquentam os pequenos cuidados mas sim os extremos. Muitos/as não sabem quando parar caindo no ridículo. Olha para o lado, é cada vez mais usual...
Zuza.
2 comentários:
Um belo excerto esse! Tão actual, tão verdade... Basta mesmo só olhar para o lado: é ver o exercício do narcisismo cada vez mais desiquilibrado.
Beijinho*
Lua, e que desiquilibrio esse!
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